sábado, janeiro 30, 2010

Descartada

Nunca gostei de jogar cartas e não entendo como as pessoas se divertem por horas jogando pôquer. Talvez por essa falta de afinidade com os baralhos, que a palavra descartada não seja a mais utilizada no meu vocabulário. Não sou linguista nem nada, mas tenho pra mim que descartada vem de carta e resume bem a conhecida expressão “carta fora do baralho”.
Só que um dia eu ouvi esta palavra e ela era direcionada para mim. Eu que havia sido descartada. E esta palavra que para mim, por si só já é um tanto pesada, ganhou mil vezes mais força quando veio em resposta a essa pergunta:
- E o teu amigo (leia-se um cara que eu era apaixonada), como está?
- Olha, não quero te dar esperanças porque você já está descartada. Não pense que você vai namorar e casar com ele porque não vai.
Bem, o resto do discurso nem vem ao caso porque só foi piorando, mas a dor de ouvir esta palavra se referindo a nossa própria pessoa é imensa. Ainda mais em se tratando de amor.
Saber que nos tornamos descartáveis é uma das piores coisas que podemos sentir. Não é à toa que se antes eu usava pouco, a partir desse dia, eu nunca mais usei esta palavra.

terça-feira, janeiro 26, 2010

Dançando entre dois amores

Tenho poucas lembranças tão nítidas da minha infância quanto as das aulas de ballet na creche. Lembro da roupa rosa, da bolsinha que carregava minha sapatilha, dos meninos indo em fila para a aula de judô enquanto as meninas iam para o ballet e das borboletas. Doía muito quando a professora forçava o alongamento das nossas pernas em posição de borboleta. Assim como doeu muito quando aos 12 anos de idade eu resolvi voltar a dançar ballet.
Foi muito difícil tomar esta decisão e verbalizá-la para meus pais porque se aos 7 anos eu me achava velha para recomeçar no ballet, imagina aos 12? Me sentia uma senhora! E ainda por cima eu era tímida, gordinha e media quase meus 1,70m atuais. Era uma aberração em sala de aula ao lado de meninas magrinhas e miúdas de no máximo 10 anos. Percebia que as professoras não sabiam muito bem o que fazer comigo e, depois de algumas tentativas de fazer ballet, acabei encontrando um alento no jazz. Ali sim, eu não era uma estranha no meio de meninas da minha idade, quase todas começando na dança. Embora eu me sentisse bem lá, não era o que eu queria.
Tempos depois, desisti da dança e fui fazer academia. Não foi à toa que eu só queria fazer aulas de axé, o hit da época e street dance. Era fantástico poder dançar sem me sentir cobrada ou julgada. Certo dia, fui assistir a um show de flamenco do Tablado Andaluz na Associação de Moradores do meu bairro. Foi lindo! Fiquei tocada com aquela dança.
O tempo passou e eu, já na faculdade, estava procurando alguma atividade para me exercitar. Então, quando passava de ônibus pela Osvaldo Aranha, vejo a escola do Tablado Andaluz e tive um estalo: é isso! Afinal, era uma dança que exigia técnica, mas que quase ninguém começa a dançar quando criança. Portanto, só teriam adultos iniciando como eu! Foi assim que começou minha história de amor com o flamenco.
Quando me mudei para São Paulo, tive que parar de dançar e isso foi muito sofrido. Em 2008, depois de dois anos parada, consegui retornar e a experiência teria sido maravilhosa se não fosse eu não ter me adaptado ao método de ensino... A professora era uma pessoa e bailarina ótima, mas com um gênio bem difícil. Foram tantos gritos e xingões que eu fui me tornando o ser mais inseguro do mundo. Foi tamanha a minha frustração que me agarrei na primeira desculpa que apareceu na minha frente e parei de dançar.
Fiquei todo o ano passado procurando aulas de pilates ou yoga pra dar um jeito na minha coluna e nunca me matriculava em nada. Até que peguei o ônibus com uma colega de trabalho. Ah, estas coisas sempre me acontecem no ônibus! Ela me falou que estava fazendo ballet numa turma para iniciantes adultos. Meus olhos brilharam! Lá estava ele, meu sonho de fazer ballet vivo de novo!
Não tive dúvida que havia chegado a minha vez! Liguei para a escola para marcar uma aula e levei um banho de água fria: não haviam mais vagas. Fiquei tão triste, mas tão triste que todas minhas amigas começaram a procurar aulas de ballet pra mim. Mas como nada nesta vida é por acaso, eu mesma achei o lugar ideal: numa escola de flamenco. Juro que eu mal podia caber em mim de tanta felicidade com a minha descoberta! E a professora ainda é uma fofa e as colegas também!
No momento, estou só no ballet tentando desenferrujar minhas articulações, aprendendo tantos passos com nomes em francês e me esforçando muito para decorar uma simples sequência de barra. Mas meus ouvidos estão ligados no sapateado que vem da sala ao lado, me chamando insistentemente para bailar. Olé!

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Pé de Chinelo

Sempre fico intrigada quando vejo um pé de sapato perdido na rua. Fico pensando em que situação alguém perde um sapato. Até que um dia, isso aconteceu comigo.
No meio da lotada praia de Copacabana, depois da contagem regressiva para a entrada de 2010, dos brindes e dos abraços, resolvo dar uma olhadinha na canga, onde estavam os chinelos da galera. E não é que o meu, justo o meu não estava lá? Apavorada com a possibilidade de passar o resto da noite de festa, que apenas começava, tendo que andar descalça ou com um saco plástico amarrado no pé, ignorei os fogos no céu e foquei em achar meus chinelos na areia.
Logo achei um pé, quase enterrado, há uns centímetros de onde estávamos. Mas e o outro? Ficava pensando “Será que meus sapatos iam fazer parte daqueles que ficam perdidos no caminho? Que bela maneira de começar o ano...”
Foram minutos de pânico, imaginando como eu andaria toda a orla até o Arpoador, descalça, quando uma amiga descobre que o outro pé estava com um grupo de senhoras ao lado, que havia guardado o chinelo caso alguém procurasse. Que bênção!
Minhas amigas ficaram me dizendo que isso era um ótimo sinal, que eu já havia começado o ano perdendo, mas reencontrando algo muito importante. Espero que sim, que isso possa ser um bom presságio e tal. Mas eu garanto que algumas vezes, não há nada melhor do que reencontrar nosso pé de chinelo perdido.